[:pt]Finalmente chegamos ao terceiro artigo da série na qual estamos tratando da importância da utilização da “Matriz GOK” para garantirmos a continuidade dos negócios familiares em tempos difíceis como os que temos vivido.
O terceiro e último fator ou dimensão do qual trataremos na série é o Fator “O”, que trata da importância de os gestores atentarem-se à fluidez operacional como fator de garantia do funcionamento e continuidade dos negócios familiares; ou seja, a importância do denominado: ”ongoing business” para que, ao fim e ao cabo, se garanta a manutenção do patrimônio da empresa familiar e, por conseguinte, a separação e manutenção do patrimônio das famílias empresárias do patrimônio das empresas familiares mesmo em situações de extrema dificuldade como a que estamos vivendo nos últimos tempos.
Ora, no contexto – hoje já menos “nebuloso” – do pós-pandemia da Covid-19 que, em tese, já podemos antever mesmo que em um “novo exercício de futurologia”[1] (que vem permeando os artigos dessa série), a operacionalidade das empresas familiares e/ou a operacionalização dos negócios da família empresária em um novo contexto que deriva, na maior parte das vezes, de um aprendizado que as famílias empresárias e empresas familiares desenvolveram nesses últimos 06 (seis) meses desde que eclodiu a pandemia da Covid-19.
Esse aprendizado, não passa somente pela relação e convivência familiar com o chamado “Novo Normal” e os cuidados de saúde dele derivados, de modo a cuidarmos dos nossos e evitarmos maiores perdas que a essa altura já impactaram muitas famílias; mas também passa pelo modelo de gestão das empresas familiares que precisaram, na maioria das vezes, reinventar sua governança – deixando os mais novos e menos suscetíveis à complicações da doença, mais à frente dos negócios – e seus processos operacionais para sobreviver nesse contexto, mantendo a fluidez operacional dos negócios familiares e garantindo, através de inovações de vários matizes, mudanças de paradigmas de gestão e até de novos canais de vendas digitais, a perpetuação/sobrevivência de muitos negócios até então.
É dizer que não só o Fator “G”, a governança das empresas, foi duramente testada nesse contexto, como também o Fator “K” do capital foi muitas vezes até esgarçado ao limite do possível e, talvez, ainda em um diapasão mais significativo, a operação das empresas familiares foi desafiada a dar respostas à altura da necessidade da manutenção do funcionamento das empresas familiares nesse contexto. Os três fatores juntos e em equilíbrio foram a diferença entre os negócios familiares e famílias empresárias que chegaram até aqui e àqueles que, de alguma forma, não lograram a continuidade necessária aos negócios nessa situação tão especial que ainda estamos vivendo.
Aliás, por falar em operacionalização dos negócios, aqueles que inovaram ou até mesmo passaram a utilizar outras ferramentas de gestão, vendas, relacionamento com fornecedores, clientes e sócios, não só acabaram por manter o funcionamento de seus negócios (parcial ou totalmente), mas muitas vezes até criaram novas linhas e/ou formas de atuação, novas ferramentas de gestão e até novas fontes de receitas, novos produtos e até mesmo angariaram novos clientes que jamais imaginaram antes.
Nesse cenário, a continuidade da empresa e, portanto, da empresa familiar e da família empresária acabam por garantir a manutenção dos negócios e, por conseguinte, a separação do patrimônio empresarial do patrimônio familiar, “descontaminando” as relações e acabando por minimizar os riscos de descontinuidade do “ongoing business” que poderia ser fatal para a família empresária e para os stakeholders do negócio como um todo na retomada do ambiente de negócios.
É como se o Fator “O” garantisse então, não só o vigor do fator “K” da empresa familiar, mas, e, principalmente, sustentasse o Fator “G” que se assenta nas boas relações da empresa familiar com seus stakeholders e com o ambiente de negócios, o que termina por demarcar uma linha de “fronteira” muito aparente entre governança empresarial e governança familiar que, a rigor, tem seu funcionamento baseado na manutenção da fonte produtora dos rendimentos da empresa familiar e da família empresária, fator a ensejar e lastrear a continuidade do negócio e o sucesso da família por muitas e muitas gerações.
Assim, esse último artigo de nossa série acaba por corroborar que a continuidade dos negócios da família empresária, a boa governança e separação do patrimônio da empresa e da família empresária – o que garante a perpetuidade da empresa e da família – e, principalmente, a manutenção da fonte produtora da renda empresarial e familiar que vai sustentar gerações de stakeholders vinculados aos negócios familiares, atua em três dimensões correlacionadas, interdependentes e que precisam ser analisadas isoladamente para serem devidamente compreendidas em toda a sua plenitude, extensão e forma, de modo a se garantir a continuidade da família empresária e da empresa familiar diante desses novos desafios enfrentados pela sociedade como um todo e especialmente pelas empresas.
Enfim, mais do que “exercício de futurologia” essa série procurou discutir as dimensões da empresa familiar e da família empresária para demonstrar que, mesmo em um contexto adverso como o que estamos vivendo, os fatores a serem observados pelo gestor e líder da empresa familiar e da família empresária são muito objetivos e que, acaso geridos e compreendidos em seus contornos amplos, a garantia da continuidade de uma empresa familiar e do sucesso de uma família empresária passa pela adequação dos modelos de gestão que reforcem, sobretudo, a continuidade dos negócios e separação entre patrimônio empresarial e familiar.
Até breve!!
[1] Vide os artigos: O “Novo Normal” regulatório I – a nova governança, e O “Novo Normal” regulatório II – a dimensão do “capital” e a continuidade das empresas, publicados nesta plataforma em 08/06 e 20/07/2020.[:]