[:pt]Em meu último artigo escrito para publicação nessa plataforma, fizemos um “exercício de futurologia” para tentar desvendar o modo e a intensidade com que um fenômeno que está sendo denominado usualmente como “Novo Normal” impactará a vida das empresas e das famílias empresárias, gestores, sociedade, enfim, as próprias nações e povos no mundo inteiro.
Para tanto, recorremos a um raciocínio de ordem econômica. Tratamos das diferenças conceituais e de “visão de mundo” entre duas escolas econômicas. A “liberal” e a “desenvolvimentista”, representadas, respectivamente, por seus dois ícones: Adam Smith e John Maynard Keynes.
Nosso desafio então, calcou-se em socorrermo-nos desse “mítico” embate de ideias – a escola liberal que preconiza o “Estado Mínimo” e a não intervenção do Estado no ambiente econômico, como “estrada” e “salvaguarda” para o desenvolvimento dos povos e nações; e o seu oposto, a escola “desenvolvimentista” que, na contramão, enxerga o Estado e a interferência nos meios de produção privados pelo Estado, como “passaporte para a prosperidade” dos povos e das nações, para traçar um “norte” para o nosso leitor e assinante do que esperar em termos de ambiente legal e regulatório no retorno da “nova normalidade” nos negócios .
Enfim, partirmos dessa dicotomia para, então, construir o nosso raciocínio em torno do que seria, em termos de perspectivas de futuro da regulação para o ambiente de negócios e das famílias empresárias, o “Day After” da pandemia da COVID-19 que vem assolando o mundo.
E, conforme se verificou naquela oportunidade, apostamos firmemente em um ambiente de negócios altamente regulado e com rígida intervenção do Estado o que, aliás não só está se desenhando na esfera da saúde pública, já que o retorno aos negócios se dará, – e está se dando em boa parte dos países que já estão “reabrindo” – com a necessidade de obediência a normas sanitárias rígidas a serem observadas pelas empresas dos mais diversos setores; mas também com regulações novas no âmbito da economia, câmbio, meio-ambiente, relações trabalhistas e, principalmente, na seara fiscal, já que os Estados-Nação que mandaram “às favas” o liberalismos em meio à pandemia, terão de recompor seus combalidos caixas e respectivos tesouros nacionais para fazer face à escalada das despesas pública que ocorrera em todo mundo como parte dos esforços para minimizar o impacto da pandemia na saúde (não só orgânica, como financeira) das pessoas, das sociedades e até das empresas mundo afora.
Assim, o que ousamos denominar de “Nova Governança” àquela oportunidade, exsurge não só como uma consequência da maior ação e protagonismo estatal, em tempos de crise, mas como imperativo da reconstrução de um mundo cuja economia como um todo fora duramente atingida pela crise sanitária que se desdobrou, como não poderia deixar de ser já que jungidas em uma crise econômica sem precedentes na história recente da humanidade.
Essa “Nova Governança” já se faz sentir, por exemplo, com a proibição de muitas empresas distribuírem lucros a acionistas ou até mesmo aumentarem salários de executivos, congelados na pandemia, mesmo para aquelas empresas menos afetadas pela pandemia ou até mesmo aquelas que melhoraram suas performances financeiras como efeito da própria pandemia, como por exemplo, empresas que já estavam muito bem consolidadas em sede de e-commerce e viram o seu mercado e base de clientes muitas vezes crescer em meio ao surto da COVID-19.
Ademais, a partir de “Orçamentos de Guerra” aprovados nos congressos e assembleias nacionais do mundo inteiro, como verdadeiros “espelhos” à execução orçamentária regular dos governos e Estados-Nação, restaram consolidados gastos e até mesmo obrigações administrativo-fiscais, bem como cobranças de impostos adicionais vinculadas à necessidade avassaladora do erário de fazer frente efeitos nocivos da pandemia nas respectivas economias dos Estados-Nação.
Nesse “Novo Normal” então o que se espera dos acionistas e dirigentes de empresas e até de famílias empresárias é que adaptem as suas empresas, as suas governanças empresariais e até mesmo familiares, ao “Novo Normal” nos negócios; “Novo Normal” esse que significa, via de regra, menos liberdade de ação, menos “discricionariedade” do gestor e/ou dos órgãos de gestão das empresas e/ou famílias empresárias que devem, a partir de então, observar novas regras, normas de conduta adicionais e muitas vezes sobrepostas em um plexo normativo já caótico e pontuado de “burocracia” e de “deveres” funcionais a que estão todas as empresas e muitas famílias empresárias estão submetidas.
Desta forma, claro que a dimensão da “Governança” das empresas será a primeira das “dimensões” da família empresária, da empresa familiar e/ou dos negócios a ser afetada pelo “Novo Normal”; cabendo a cada família, a cada gestor, a cada acionista um olhar atento para entender o impacto dessas novas regulações em seus negócios e contornar as dificuldades adicionais que se avizinham, de forma a liderar as suas organizações, as suas famílias, as suas empresas e/ou negócios para a prosperidade nesse novo cenário que já está aí se desdobrando sob as mais diversas formas de regulação pelo Estado.
Outras “dimensões” da vida empresarial e/ou do mundo dos negócios deverão merecer atenção por parte do gestor, talvez até de forma redobrada para a boa gestão dos negócios e do patrimônio da família empresária no pós pandemia; mas essa é outra estória que contaremos na sequência da série de artigos que iniciamos a partir de então e que terão por objeto traçar os “contornos” e os “parâmetros” do “Novo Normal” para o mundo dos negócios familiares e das famílias empresárias.
Até breve![:]